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Quarta, 03 Junho 2020 11:16

Pesquisa desenvolvida por farmacêutica conclui que acupuntura possui mais eficácia no manejo da dor de canal que analgésico dipirona

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O estudo conduzido na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp avaliou a efetividade da acupuntura no manejo da dor aguda do canal (pulpite), em comparação ao analgésico dipirona.

O tema foi objeto de estudo da dissertação de mestrado da farmacêutica Talita Bonato de Almeida, a qual teve orientação da professora do departamento de Ciências da Saúde e Odontologia Infantil, professora Maria da Luz Rosário de Sousa.

69d9a38c 2f01 443d bc3b 564461455dbcA pesquisa mostrou que a acupuntura foi mais efetiva na redução da odontalgia que o analgésico dipirona e que a acupuntura pode ser uma alternativa para o manejo de odontalgias. A acupuntura é mais rápida e acalma o paciente para o serviço odontológico, já que também pode reduzir a ansiedade. Ao contrário da dipirona, a acupuntura não tem efeitos colaterais.

Além de amenizar a dor, a técnica atingiu outros aspectos, como a redução da ansiedade em relação ao tratamento odontológico e a aceitação do paciente sobre a acupuntura também melhorou. Porém ainda há muita desinformação a respeito do tema”, informou Talita

O escopo principal da pesquisa era saber se a acupuntura era capaz de obter efeito analgésico assim como a dipirona no paciente na sala de espera odontológica, para estudar se o paciente conseguiria entrar para tratamento sem aquela dor terrível, se a acupuntura auxiliaria no bem estar do paciente assim como a dipirona auxilia”, conta Talita.

A acupuntura é uma técnica chinesa, na qual é inserida uma agulha ou outros dispositivos terapêuticos, como sementes e imãs, em acupontos - pontos específicos do corpo humano, os quais fazem a energia circular no paciente.

No Brasil, diferentemente de alguns países onde o medicamento não é permitido, a dipirona é de muito fácil acesso à população, que pode ser usada por todas as faixas etárias. Seu uso é recomendado para tratamentos temporários que aliviam desde a febre até dor odontológica, por exemplo.

Segundo a pesquisadora, quando o paciente sente dor, a energia que o faz viver, pensar e até mesmo andar, está estática, parada em algum lugar, não fluindo de maneira saudável. Quando estimulado o ponto correto, essa energia volta a circular e a melhora dessa dor é perceptível. Será que a dor tem relação com a energia do paciente? Existe um método mais eficiente que a dipirona para reduzir essa dor?

A pesquisa contou com 56 voluntários captados nos serviços de urgência odontológica da FOP e Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) de Piracicaba entre os meses de fevereiro a novembro de 2018, utilizando os seguintes critérios de inclusão: dor de origem pulpar com escala de dor acima de 4, ausência de medicação para essa dor e idade superior a 18 anos. O diagnóstico de odontalgia foi confirmado por um cirurgião dentista antes do início da pesquisa.

Antes de qualquer intervenção terapêutica, adotamos três padrões para medir essa dor, já que cada um sente ela de uma maneira. Os voluntários classificaram a intensidade dela utilizando o VAS (Visual Analogue Scale), o qual é muito subjetivo, então tiveram suas salivas coletadas para análise de cortisol salivar e tiveram seu nível energético mensurado pelo método Ryodoraku, que é uma técnica da medicina tradicional chinesa, onde se faz uso de um software pra fazer a medida da energia desse paciente”, relatou Talita.

Os voluntários foram divididos aleatoriamente por um sorteio simples, sem reposição e utilizando envelopes codificados, em 4 grupos de estudo, com 14 membros em cada: Acupuntura Real, Acupuntura Placebo, Dipirona Real e Dipirona Placebo.

Os que foram sorteados para a Acupuntura Real, receberam uma sessão de acupuntura utilizando agulhas penetrantes e os do grupo Acupuntura Placebo receberam uma sessão de acupuntura sham, parecida com a real, porém utilizando agulhas não penetrantes. Os voluntários do grupo Dipirona Real receberam um comprimido de dipirona com 500 mg e os do grupo Dipirona Placebo receberam um comprimido sem princípio ativo.

Após 20 minutos de intervenção, o paciente foi submetido a uma nova coleta de dados, os quais foram analisados estatisticamente no programa BioStat. Importante salientar que após a realização da pesquisa, todos os pacientes foram encaminhados ao serviço de urgência para receber o tratamento odontológico para resolução definitiva da causa da dor.

O grupo Acupuntura Real apresentou uma redução maior de VAS do que a redução obtida pelo grupo Dipirona Real (p≤0,05) e o grupo Acupuntura Placebo apresentou redução maior da VAS que o Dipirona Placebo (p≤0,01). O grupo Acupuntura Placebo obteve uma redução de VAS estatisticamente semelhante que Dipirona Real.

Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos para as variáveis cortisol salivar e nível energético. A crença sobre a alocação nos grupos de estudo e a expectativa quanto ao tratamento não modificaram os resultados da VAS.

Para a pesquisadora, a terapia deveria ser mais acessível e disponibilizada para a população pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a qual ajudaria a diminuir gastos e a reduzir o consumo de medicamentos.

Para garantir acesso gratuito da população às práticas alternativas, a FOP criou o Grupo de Estudos e Pesquisa em Práticas Integrativas (GEPPI), onde acupunturistas trabalham voluntariamente na clínica atendendo à população com queixas relacionadas à cabeça e pescoço. Mais informações sobre o serviço pelo telefone (19) 2106-5706.