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Sexta, 06 Abril 2018 14:28

Água fluoretada e arroz-feijão para o controle da cárie dentária

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Trabalho de tese de doutorado da aluna Carolina Veloso Lima da Área de Cariologia do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da FOP, realizado sob a orientação do Prof. Dr. Jaime A Cury, mostrou que alimentos cozidos com água de abastecimento público fluoretada, caso de Piracicaba, SP, liberam o fluoreto na boca quando da mastigação de uma refeição típica brasileira feita à base de arroz-feijão e carne com legumes.

Os resultados foram comparados com a ingestão da mesma refeição, porém cozida com água sem flúor. Aumento significativo da concentração de fluoreto foi encontrado na saliva e fluido do biofilme dental quando da mastigação de alimentos cozidos com água fluoretada. Isso nunca havia sido antes mostrado e o trabalho feito está aceito para publicação na revista Caries Research, o mais importante periódico mundial de pesquisa em cárie dentária. Esses resultados dão suporte ao conhecimento atual de que o mecanismo de ação do flúor agregado à Água no controle de cárie é local e não sistêmico. Nesse sentido, explica a aluna: “O benefício anticárie da água fluoretada vai além da água que é bebida, ou seja, toda vez que um indivíduo mastiga alimentos cozidos com água fluoretada ocorre um aumento da concentração de fluoreto nos fluidos orais, que é capaz de interferir com o processo de desenvolvimento das lesões de cárie”. O professor Jaime vai mais além: “Isso ocorre com crianças, adultos e idosos, todos serão beneficiados por alimentos cozidos com água de abastecimento público otimamente fluoretada (0,7 ppm F)".

Entre os países da América Latina, o Brasil adotou a fluoretação da água como uma estratégia de saúde pública (Lei nº 6.050 de 24/05/1974) no controle da cárie dentária. Outros países, como Bolívia, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Peru, México, Uruguai e Venezuela, por algumas razões optaram pelo programa de sal fluoretado. Assim, o presente trabalho também avaliou se alimentos cozidos com sal fluoretado (180 ppm F) liberam flúor na boca quando da mastigação de uma refeição. Os resultados mostraram que arroz-feijão e carne com legumes cozido com sal fluoretado disponibilizam flúor na boca quando mastigados. As concentrações de fluoreto encontradas na saliva e biofilme foram inclusive maiores do que as encontradas com o uso de água fluoretada, resultado esse coerente com a concentração de flúor encontrada nos alimentos cozidos. Explica Carolina, “A diferença é que água fluoretada provoca aumento de flúor na boca quando os alimentos cozidos com a mesma são mastigados e também toda vez que a água é bebida, enquanto com o sal só quando alimentos cozidos com o mesmo são comidos”.

O estudo é uma continuação de uma das linhas de pesquisa da Área de Cariologia, liderada pelo Prof. Dr. Jaime A. Cury. Em 2004, o estudante de Odontologia Renato Casarin, atualmente docente da FOP, realizou uma pesquisa de iniciação científica a qual mostrou que arroz-feijão absorvem fluoreto da água quando do cozimento dos mesmos, trabalho este publicado em 2007 na Revista de Saúde Pública. O presente estudo mostra que esse fluoreto é liberado na boca quando da mastigação de uma refeição à base do nosso arroz-feijão de todo os dias.