Imprimir esta página
Segunda, 25 Junho 2018 14:59

Pesquisa

Escrito por

Tese de doutorado sugere novo modelo de assento para cirurgiões-dentistas que favorece a sustentação da coluna ereta

 Os profissionais da Odontologia estão expostos a distúrbios musculoesqueléticos devido a sua postura de trabalho. Nos últimos anos, com a aplicação da ergonomia na Odontologia, ocorreu grande avanço tecnológico. No entanto, os cirurgiões-dentistas continuam sendo população alvo de muitas dores articulares e musculares, decorrentes de posições incorretas de trabalho. A Tese de doutorado defendida recentemente pela cirurgiã-dentista e educadora física Giovana Renata Gouvêa revelou que a fonte de dor mais comumente relatada pelos acadêmicos de Odontologia está na região lombar (54%), região cervical (46%) e ombros (33%). A Tese, intitulada “A prática clínica odontológica: análise ergonômica da postura sentada” teve orientação do professor da área de Odontologia Preventiva e Saúde Pública, Prof. Dr. Antônio Carlos Pereira, e pode ser visualizada na integra por meio do link http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/330894.

mochoO estudo tem como proposta mostrar para os cirurgiões-dentistas e, outras profissões, que permanecem longos períodos do dia sentados ou em pé, que há outras opções de posturas de trabalho e posicionamento corporal. “Poucos assentos são projetados para facilitar o posicionamento e a manutenção da postura sentada correta, ou seja, mantendo as curvaturas fisiológicas da coluna vertebral. A biomecânica do assento “tipo sela” (nome originado a partir da sela do cavalo) facilita o posicionamento e manutenção da postura sentada correta, isto é, favorece a sustentação ereta da coluna com menos esforço. O peso corporal é uniformemente sustentado entre os ísquios (ossos da pelve), evitando a sobrecarga na região lombar. O assento é muito difundido na Europa e utilizado em várias profissões que exigem mobilidade de tronco”, conta.

A motivação pelo tema surgiu, ainda enquanto discente do Curso de Odontologia, da preocupação com a prevenção de problemas ocasionados pela postura incorreta dos profissionais da Odontologia e, também, por sentir-se incomodada com a escassez de estudos sugerindo novos projetos de assentos ergonômicos, bem como a não inserção de assentos ergonômicos existentes no campo Odontológico. “Novas tecnologias são incorporadas frequentemente à cadeira do paciente, seguindo as suas exigências e necessidades, com um alto custo para o profissional. Por outro lado, o assento do dentista vem como brinde. Muitos cirurgiões-dentistas estão abandonando a profissão, ou reduzindo a carga laboral em razão de dores causadas por problemas posturais. “É necessário que o profissional atente para os riscos relacionados ao trabalho pela manutenção da postura sentada incorreta, e se preocupe com a escolha do seu tipo de assento”, disse.

DSC 2262O estudo, que contou com apoio da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e, posteriormente, CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), foi conduzido na Fundação Hermínio Ometto (FHO|UNIARARAS), com 84 acadêmicos de Odontologia, divididos em grupo controle (assento convencional) e experimental (assento tipo sela Salli®).

Foi avaliado neste estudo a projeção do centro de gravidade plano frontal e plano lateral, que são fatores essenciais para a compreensão do seu equilíbrio corporal em diferentes assentos, visto que esses profissionais atuam inclinados para frente, com inclinação e torção do tronco para direita, na grande maioria dos atendimentos clínicos. Assim, o grupo que utilizou o assento tipo sela, (experimental), após dez meses de estudo, apresentou melhora significativa na projeção do centro de gravidade plano lateral, que é o posicionamento do tronco mais próximo da normalidade. Ao passo que, no grupo controle (assento convencional), ao final do período especificado, ocorreu piora significativa na projeção do centro de gravidade do plano lateral, isto é, posicionamento do tronco mais distante da normalidade.

 A posição sentada inadequada, nos postos de trabalho, quando mantida por longos períodos, leva a cifose lombar, cifose cervical, alteração na projeção do centro de gravidade e sobrecarga estática nos tecidos osteomioarticulares da coluna, favorecendo um perfil sagital em forma de C que compreende a coluna cervical, torácica e lombar e a rotação pélvica posterior. Estes fatores estão diretamente relacionados ao desenvolvimento da dor lombar e cervical e doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo em razão do aumento da pressão intradiscal.

A pesquisadora ressalta que o tipo de assento utilizado pode evitar efeitos deletérios, portanto, ser benéfico na prevenção da dor e disfunções da coluna vertebral. Um assento que contempla os requisitos ergonômicos é, portanto, postulado para reduzir a ocorrência de sintomas musculoesqueléticos. Assim, esta tese amplia a escolha da postura de trabalho do cirurgião-dentista e de outros profissionais. O assento tipo sela pode ser uma opção de postura sentada dinâmica, por facilitar a ativação dos músculos do tronco durante o estar sentado, e posição de trabalho mais confortável.