4. Controle da Infecção Cruzada na Prática Odontológica
Não existem dúvidas que a infecção cruzada acontece a partir dos procedimentos odontógicos. A exata magnitude da Infecção Cruzada na Odontologia é improvável de se conhecer precisamente.
4.1. Mecanismo de Infecção Cruzada
Para compreender o mecanismo da Infecção Cruzada vamos sugerir uma situação hipotética:
“O paciente sentou-se na cadeira odontológica, o instrumental esteriliza-do foi disposto adequadamente e o aluno/profissional lavou criteriosa-mente as mãos. Porém, num dado momento o refletor precisa ser melhor posicionado, a cadeira abaixada, novo instrumento precisa ser reti-rado da gaveta, as seringas de ar e água são manipuladas, as peças de alta e baixa rotação são tocadas.”
Tudo o que for tocado pelo aluno ou pelo profissional torna-se teórica-mente contaminado. Além disso, todas as superfícies da sala ficam contaminadas por aerossóis produzidos pela peça de mão, seringas de ar e água.
Existem três nichos ou reservatórios que favorecem a Infecção Cruzada na Clínica ou no Consultório:
- Instrumental
- Mãos
- Superfícies contaminadas
Todos os pacientes devem ser considerados potencialmente infectantes pelo fato de não poderem ser identificados, mesmo com um bom levantamento da história médica e a realização de criterioso exame físico e de testes laboratoriais.
Todo paciente deve ser atendido como se fosse portador de uma doença contagiosa.
Levando-se em consideração isso tudo, o CDC-EUA (Center for Disease Control and Prevention) recomenda que se tomem precauções contra a contaminação por sangue ou outros fluidos corporais de forma consisten-te no atendimento de TODOS OS PACIENTES Isso ficou conhecido como “precauções universais.”
Realizar CI (Controle de Infecção) é uma necessidade moral e legal, que torna a razão do trabalho verdadeira e valoriza o profissional da Saúde e a profissão, perante o paciente e a sociedade. Embora a reali-zação do CI tenha um certo custo, vidas não tem preço.
4.2 Estruturação do conhecimento para a realização do CI
Todos devem estar conscientes das variáveis que levam à contaminação e à infecção:
- 4.2.1 A presença de fontes de microrganismos
- 4.2.2 As formas de contaminação
- 4.2.3 Patogenicidade
4.2.1 A PRESENÇA DE FONTES DE MICROGANISMOS
A maior concentração de microrganismos na Clínica/Consultório Odontológico encontra-se na boca do paciente. Quanto maior a manipulação de sangue, visível ou não, maior é a sua chance de contrair doença infecciosa. Ao utilizarmos instrumentos rotatórios, jatos de ar, ar/água, ar/água/bicarbonato e ultra-som, a contaminação gerada em até 1,5 m de distância é muito grande.
Peças de mão e borrachas contaminadas, a água que supre o abastecimento de Saúde, o sabonete em barra, a toalha de pano, a torneira não automática, as soluções de limpeza, podem ser fortes veículos de microrganismos.
Nossas mãos, uma vez contaminadas de saliva e/ou sangue, são os maiores veículos de contaminação de superfícies.
4.2.2 FORMAS DE CONTAMINAÇÃO
- Direta: ocorre pelo contato direto entre o portador e o hos-pedeiro. Ex. Hepatites virais, HIV.
- Indireta: ocorre quando o hospedeiro entra em contato com uma superfície ou substância contaminada. Ex. Hepatite B, Herpes simples.
- À distância: através do ar, o hospedeiro entra em contato com o microrganismo. Ex.Tuberculose, Sarampo e Varicela.
4.2.3 PATOGENICIDADE
Expressa a possibilidade de uma contaminação gerar uma infecção.
Uma vez ocorrida a contaminação, a possibilidade de ocorrer a infecção é diretamente proporcional ao número de microrganismos contaminantes vezes a virulência deles e é inversamente propor-cional à resistência do hospedeiro. A virulência é definida como o conjunto de recursos que os microrganismos possuem para causar dano ao hospedeiro, instalando-se, sobrevivendo e, finalmente mul-tiplicando-se. Resumindo, para que ocorra uma infecção é necessário que haja uma fonte de microrganismos, um contágio através de uma das três formas, por um microrganismo de determinada virulência, em um hospedeiro com maior ou menor resistência.