Segunda, 07 Fevereiro 2022 09:54

Área de Bioquímica analisa fluoreto natural na água e em solos do Amazonas

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Da esquerda para direita: a doutoranda Astrid Carolina Valdivia Tapia, Prof. Jaime Cury e o mestrando Jefter Haad Ruiz da Silva Da esquerda para direita: a doutoranda Astrid Carolina Valdivia Tapia, Prof. Jaime Cury e o mestrando Jefter Haad Ruiz da Silva

O laboratório de Bioquímica Oral da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP-UNICAMP) é considerado centro de excelência mundial na dosagem de fluoreto (F) em diferentes tipos de amostras e produtos, como por exemplo, água, dentifrícios, chás, produtos odontológicos, entre outros. Porém, esta análise não se limita a estes tipos de amostras, como é o caso da pesquisa que atualmente está sendo realizada no laboratório intitulada "Análise hidrogeoquímica da concentração de F no solo e na água de abastecimento público de Manacapuru-AM", que faz parte do Procad (Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia – PROCAD Amazônia) entre a UFAM (Universidade Federal do Amazonas) – UFMA (Universidade Federal do Maranhão) - FOP, aprovado pela Capes (Edital no. 21/2018).

dsc 1314 01Assim, entre os dias 18 de janeiro e 17 de fevereiro de 2022, o Laboratório de Bioquímica recebe o mestrando Jefter Haad Ruiz da Silva, aluno da UFAM, para realizar as análises do seu projeto de pesquisa. O mestrando é orientado pela Profa. Maria Augusta Bessa Rebelo (UFAM), que é egressa de PG da FOP, e coorientado pelo Prof. Jaime Aparecido Cury.

Em 2015, a Rede Brasileira de Vigilância da Fluoretação da Água (Rede Vigiflúor), tendo a participação do Prof. Jaime Cury e do Laboratório de Bioquímica, realizou um levantamento acerca da fluoretação das águas de municípios brasileiros com mais de 50.000 habitantes. O município amazonense de Manacapuru, localizado cerca de 100 km ao sul de Manaus, foi incluído e os resultados foram surpreendentes porque na região Amazônica predomina água com baixíssima concentração de F natural (0,01 ppm F). Foram identificados poços artesianos com teor de flúor natural em níveis considerados ótimos para o consumo humano. Diversas fontes de água são usadas para atender as necessidades da zona urbana do município, sendo o Lago Miriti a principal fonte, complementada por poços tubulares de profundidades variáveis. Em 28 amostras de águas coletadas em 2015 destes poços, 13 apresentaram teor de flúor superior a 0,55 ppm F, com teor médio de F de 0,626 ppm F. São águas naturalmente fluoretadas, com teor considerado ótimo quanto ao controle da cárie para as condições climáticas da região.

 Em virtude deste achado, o Prof. Cury e a Profa. Maria Augusta sugeriram investigações complementares quanto à origem destes fluoretos, tendo como enfoque a probabilidade de que tais achados estejam associados a formações geológicas características da região. Portanto, este trabalho tem por objetivo realizar a análise de fluoretos presentes na água de poços específicos de Manacapuru, e analisar a concentração de flúor mineral nas unidades geológicas adjacentes aos referidos poços, afim de se investigar se existe correlação entre o quantitativo de F presente nas amostras de água e solo coletadas no município. O trabalho conta ainda com a coorientação do Prof. Dr. Ingo Daniel Wahnfried, Professor Adjunto do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Amazonas (Degeo - UFAM).

dsc 1347 01As atividades realizadas no Laboratório de Bioquímica são supervisionadas pelos docentes da área de Bioquímica da FOP-UNICAMP, com a imprescindível colaboração da doutoranda Astrid Carolina Valdivia Tapia, aluna do PPG-O da FOP-UNICAMP. Segundo o professor Cury, a programação das atividades no laboratório começou com a análise de F nas águas coletadas em 22 poços e foi possível observar que 7 poços apresentam concentração de F dentro do limite considerado ótimo para o controle da cárie (0,601 a 0,686 ppm F). De acordo com a Portaria no 635/BSB, de 26/12/1975 do Ministério da Saúde, 0,7 mg F/L (ppm) é a concentração ótima, sendo 0,6 e 0,8 mg F/L considerados respectivamente como valores mínimo e máximo, para cidades com média das temperaturas máximas diárias de 26,8 a 32,5ºC. Nenhum poço apresentou concentração de F acima de 0,8 ppm F; todos abaixo do valor máximo permissível (VMP) de 1,5 ppm F.

Outro ponto importante da pesquisa é a definição do protocolo de extração de F dos solos, estando planejadas tanto a determinação do solúvel como o total. As amostras de solo, que somam um total de 129, foram secas, trituradas e passadas em peneira, a fim de selecionar partículas com um tamanho padronizado. O solo é então pesado, misturado com água purificada e colocado em ultrassom por 30 min para extrair o fluoreto solúvel. A determinação de F é feita em eletrodo íon específico. De um total de 21 amostras de diferentes solos de Manacapuru, coletadas a 20 cm de profundidade, foi encontrada uma correlação positiva entre a concentração de F na água do poço e a concentração de F solúvel no solo. O pesquisador Jaime Cury acrescenta: “A pesquisa está em andamento para: 1) Excluir se o F solúvel encontrado no solo não é um simples contaminante da água do poço; 2) Para verificar se o F está na forma de minerais (determinação do total) e 3) analisar amostras de solo coletadas até 200 m de profundidade”.