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A farmacêutica Valéria Aparecida dos Santos Nogueira desde os 15 dos seus 37 anos trabalha com a homeopatia. Bisneta de boticário, ela cedo vivenciou parte da inserção da especialidade no Brasil. Fazendo uma avaliação das perspectivas atuais, ela declara que há boas possibilidades de crescimento da homeopatia, mas que é necessário desfrutar dos avanços já em curso, como a Portaria 971 do Ministério da Saúde, que regulamenta Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS). “Não creio que ela por si dê conta disso. É preciso educação permanente”, diz, pois em sua pesquisa de mestrado constatou que os entrevistados a desconheciam. “Além disso, espera-se adesão dos profissionais e um processo dialógico com os usuários do sistema público, na busca do acesso e integralidade.”

A farmacêutica abordou no seu estudo, orientado pelo professor da FOP Fábio Luiz Mialhe, as representações sociais das equipes das Unidades de Saúde da Família (USFs) de Piracicaba. O intuito foi avaliar os conhecimentos, atitudes e práticas em relação às práticas integrativas e complementares, com ênfase na homeo- patia. Para tal, foram entrevistados 70 profissionais das USFs da cidade, entre médicos, enfermeiras e dentistas.

Valéria Nogueira recorda que, na década de 1990, os médicos homeopatas eram vistos de forma estigmatizada no país. Começou a sua pesquisa de mestrado com essa visão. Mas foi testemunha das diferentes movimentações, inclusive da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendando a sua implementação. A “Iniciativas acontecem quando as pessoas impulsionam a necessidade. Vimos na revisão bibliográfica que elas começaram a buscar alternativas para diminuir a medicalização, melhorar a qualidade de vida e manter a saúde”, expõe a pesquisadora.

Campo
A pesquisadora empregou um roteiro semiestruturado para as entrevistas. A pesquisa de campo aconteceu nas 34 Unidades de Saúde da Família de Piracicaba. Foi um estudo quali-quantitativo, transversal e do tipo censo. Lançou mão ainda de um pré-teste permeando cinco questões centrais: “quando se fala em homeopatia, qual é a primeira coisa que lhe vem à mente?”; “o que você acha des- sa alternativa de tratamento?”; “caso houvesse profissionais homeopatas na sua área de atuação, você os indicaria: se sim, para que casos você acha que o atendimento seria possível?”; “o que você achou do Ministério da Saúde ter aprovado em 2006 a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS?”; e “pensando nas práticas que a Portaria 971 engloba, se você pudesse aperfeiçoar e ampliar os seus conhecimentos através de um curso, qual você faria?”.

Os resultados da pesquisa indicaram que, ao falar da homeopatia em sentido amplo, o que vinha à mente do entrevistado era o fato dela ser bem aceita hoje, a priori na atenção primária, embora muitos dos avaliados tenham produzido um distanciamento conceitual entre a homeopatia e a fitoterapia. Isso foi observado à luz da análise discursiva do sujeito coletivo, técnica usada em pesquisas de opinião com questões abertas, o que possibilitou compreender quem estava falando em homeopatia e quem em fitoterapia. Alguns, notou, se referiram a Hahnemann, às bolinhas, às gotinhas ou então à arnica e à tintura, misturando os conhecimentos. No entanto, a farmacêutica informa que dar uma resposta correta não fazia parte da proposta e sim investigar a representação social e teóri- ca do arcabouço vivido pelos avaliados.

Na mesma pergunta, “caso houvesse profissionais homeopatas, você os indicaria (ou orientaria no caso das enfermeiras)?”, a resposta de 68 entrevistados foi “com toda certeza”. Apenas dois entrevistados não a indicariam. “Os entrevistados são favoráveis e acreditam que a implementação desses serviços diminuiria a medicalização, sendo mais uma opção aos usuários”, revela Valéria Nogueira.

Além de ter surpreendido a farmacêutica a grande aceitação da homeopatia, outro fato que lhe saltou à vista foram as situações para as quais eles a indicariam. Foram apontadas as alergias e rinites, “onde realmente se notam vários benefícios”.

Entre outras questões, todos os entrevistados relataram que pretendiam realizar cursos de práticas integrativas e complementares em acupuntura, em fitoterapia e em homeopatia. Entendiam que o curso seria valioso para a assistência pública. Mas achavam que enfrentariam dificuldades, via de regra na formação de RH, finanças (com os pactos de gestão de saúde municipal) e aceitação pelo usuário, “pois tudo seria novo para ele”.

A autora concluiu dizendo que, além do preparo de pessoal, seria preciso existir uma educação democrática. A seu ver, poucos municípios acataram a Portaria 971, sendo que um de seus sentidos é a integralidade. Para a farmacêutica, também ajuda ter pessoas chaves atuando na ponta do processo e com o envolvimento da população nos pactos, reuniões e conselhos da área.

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■ Publicação
■ Dissertação de Mestrado:
 “Perspectivas da utilização da homeopatia em saúde coletiva: representações das equipes de saúde”
Autora: Valéria Aparecida dos Santos Nogueira
Orientador: Fábio Luiz Mialhe
Unidade: FOP
Financiamento: Capes/Proex

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