Julia Pereira Barbosa, 16 anos, da Escola Barão do Rio Branco, é a primeira aluna surda a ingressar no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Unicamp (PicJr.), na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp. Ela participou do processo de seleção no final de 2012, na Escola Barão, que é referência no Estado de São Paulo na inclusão de alunos surdos. Os dez melhores alunos das turmas de segundo e terceiro ano do ensino médio foram selecionados pelo coordenador da escola. Apenas Júlia possuía surdez. Embora a área científica não fizesse parte dos seus planos, ela optou por ingressar no projeto porque teria contato com diversas áreas. Júlia tem como sonho se formar em pedagogia e trabalhar com alunos surdos.
A professora Juliana Alleoni Lara da Silva, interprete, disse que já nas primeiras aulas ela se mostrou receptiva com os colegas e teve boa integração com o grupo. Os alunos procuram aprender a língua dos sinais, por meio de pesquisa na internet, objetivando melhor comunicação. Cinco integrantes do grupo já tentam um contato, sem o auxílio da interprete.
A FOP já teve um primeiro contato com tema, em 2011, por meio de um projeto de pesquisa desenvolvido pela aluna do PicJr Maria Carolina Stolf Fazanaro. “Acredito que o trabalho que desenvolvemos na FOP ajudou a abrir portas. Percebemos que os surdos sentem falta de um material sobre saúde bucal usando a língua de Libras. Pretendemos desenvolver uma apostila voltada a saúde bucal com a língua de Libras e deixá-lo à disposição dos alunos e professores na Clínica Odontológica. Pelo menos o básico é bom ter conhecimento. O aluno surdo se sente excluído por não ter um material em uma linguagem que possam entender”, avalia.
A professora Rosana de Fátima Possobon informou que LIBRAS deveria ser ensinada em cursos de graduação em saúde, uma vez que, desde 2002, é considerada oficialmente a segunda língua do Brasil. “Há 5 anos, a disciplina de Psicologia Aplicada tem contribuído, por meio de palestras, desenvolvendo o tema com os alunos . Nestas aulas, são oferecidas noções de LIBRAS, a fim de despertar nos alunos o interesse pela língua e também para que percebam a importância de ter esse tipo de noção”, explica Possobon.
De acordo com a professora Juliana, hoje, a atitude das pessoas frente aqueles que possuem alguma deficiência é completamente diferente. “Antes predominavam o sentimento de pena, compaixão ou medo. Agora possuem o desejo de conhecer, aprender, é uma troca. O fato das pessoas não saberem a língua dos sinais reduz um pouco a comunicação com a Júlia. Entretanto, a presença do interprete é o que garante sua participação no curso. Ela sabe que a comunicação em libras é pouco conhecida. O fato da aluna Caroline já ter desenvolvido um trabalho na FOP sobre a língua dos sinais e as meninas do grupo ter curiosidade também auxiliou na sua adaptação. As alunas estão estudando em casa para entender melhor a língua para que ela se sinta incluída”, avalia a professora.