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A partir da década de 90 houve a inserção do Programa Saúde da Família (PSF) no estado de São Paulo, que vem ocupando espaço junto com o modelo de atenção básica tradicional, a Unidade Básica de Saúde (UBS). A diferença entre os dois modelos, basicamente, é que, a Saúde da Família é composta por vários profissionais, entre eles, médicos, enfermeiros, dentistas e os agentes comunitários de saúde, os quais trabalham em Unidades de Saúde da Família (USF). Eles divergem principalmente pelo fato de que, além de ter uma equipe multidisciplinar trabalhando com a comunidade, também há um vinculo da equipe com a comunidade, tem a questão do acolhimento e o trabalho multiprofissional mais bem organizado. A territorialização, que é a capacidade de identificação das pessoas com os problemas da comunidade, é uma característica importante do PSF, além da prevenção mais eficiente na prevenção de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, entre outras, conta o professor Antonio Carlos Pereira.

Já a UBS tradicional contempla um território muito grande, composto por aproximadamente 10 a 12 mil pessoas. Pelo número elevado de pessoas atendidas, não conseguem trabalhar uma forma capaz de prevê uma doença crônica, uma vez que não tem capacidade de logística para atender todo esse público.

O aumento no número de equipes de profissionais na Estratégia da Saúde da Família (ESF) possibilitou maior acesso da população a cuidados básicos em saúde, melhorando os indicadores de saúde, principalmente os ligados a doenças crônicas e saúde da mulher. Estatísticas mostram que há uma modificação para melhor dos indicadores de mortalidade infantil como, por exemplo, aumento da porcentagem de mulheres que tem acesso ao pré-natal, refletindo assim, a melhora na atenção básica. Como há mais gente coberta pela atenção da Saúde da Família, teoricamente, entende-se que há uma melhora dos indicadores de saúde.

Entretanto, ainda fica uma pergunta: além da cobertura em atenção básica, será que há outros fatores que influenciam, como por exemplo, renda? Nos últimos anos houve uma melhora na renda, principalmente, nas classes C e D. Será que essa melhora na renda não traz consigo melhora nos indicativos de informação ao acesso? Buscando entender melhor essa questão, foi desenvolvida a tese de doutorado do Cirurgião Dentista Eloisio do Carmo Lourenço, na área de concentração em Saúde Coletiva do Programa de Pós Graduação em Odontologia da FOP/UNICAMP. O estudo analisou todos os municípios do estado de São Paulo (645) no período de 1998 a 2008 e teve orientação do professor Antonio Carlos Pereira. O estudo foi realizado por meio do cruzamento de informações nos sistemas de atenção básica, dados do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, site da Fundação SEADE, além dos dados do DATASUS e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa mostrou que o Programa Saúde da Família tem uma relação com a melhora dos indicadores de saúde. De acordo com Pereira, os municípios que aumentaram a quantidade de equipes do Saúde da Família tiveram melhoras mais significativas do que aqueles domicílios que não aumentaram. O estudo também mostrou que, além do Saúde da Família, a Renda per capta claramente demonstrou uma influência na melhora qualitativa desses indicadores, portanto interagiram aspectos socioeconômicos e acesso a serviços de saúde.

“Isso mostra várias coisas, entre elas, que a ascensão da classe C e D traz consigo também uma melhora qualitativa dos indicadores de saúde”, avalia.

O objetivo do trabalho foi o de mostrar que houve melhora qualitativa de saúde nos indicadores, a qual está associada ao aumento da atenção básica com a implementação de Saúde da Família. É um resultado muito importante para a política de saúde. Demonstra que não é só trabalhar com atenção básica, mas também no sentido das pessoas proverem soluções para se sustentarem, para melhorar a qualidade de vida delas através de informação, lazer, entre outros itens.

“A tese trouxe ramificações e informações importantes para o Ministério da Saúde. Concluiu que, aumentar o número de postos a atenção básica melhora os indicadores de saúde através de uma estatística realmente sensível. Todo condicionamento de recursos direcionado para esse fim feito nos últimos 10, 15 anos, passa a ser algo palpável”, disse Pereira.

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