Prof. Cury, participa de simpósio e auxiliado pelo técnico de laboratório Waldomiro Vieira, ministra curso teórico-prático na Universidade dos Açores, Portugal
O vulcanismo ativo e a alta concentração de flúor nas águas subterrâneas está na origem da maior incidência de fluorose encontrada nos Açores em comparação a Portugal.
O Prof. Dr. Jaime Aparecido Cury, da área de Bioquímica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) participou dia 05 do workshop “Volcanism, Fluoride and Fluorosis”, realizado em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel nos Açores quando abordou o tema: “Metabolismo, Mecanismo de Ação e Toxidade de Fluoreto”. Nos dias 6 e 7, auxiliado pelo técnico de laboratório Waldomiro Vieira, ministrou curso teórico-prático sobre “Determinação de flúor com eletrodo específico”.
Na conferência do dia 05, o prof. Jaime, ao falar sobre metabolismo do flúor, discutiu a fundamentação científica do uso de vários marcadores biológicos que poderiam ser utilizados para estimar o impacto ambiental do efeito do fluoreto devido ao vulcanismo. Considerando os dados apresentados no workshop de que esforços tem sido feitos pelo tratamento de água para que a água de abastecimento público não tenha mais que 1,5 ppm F, estimou que se uma bebê for alimentado com leite em pó usando essa água, ele ingerirá 0,45 mg F de flúor por mamadeira bebida. Tomando apenas 2 mamadeiras/dia, um bebê de 10 kg seria submetido a dose de 0,09 mg F/dia/kg, a qual já é 30% acima da dose limite de risco de fluorose.
Além da água, outra fonte expressiva de exposição a flúor em Açores é o chá preto e uma xicara de chá por dia, afirmou o prof Jaime, fornece em torno de 0,30 mg F. Preparado com água contendo 1,5 ppm F, a ingestão total de flúor será de 0,60 mg de F/xícara. Entretanto, o prof frisou na sua apresentação que fluorose dental é uma doença crônica e o efeito nos dentes depende mais do tempo de duração de uma certa dose do que da dose em si, isto é, doses constantes (diárias) de por exemplo 0,07 mg F/kg/dia são mais críticas que esporádicas de uma dose 10x maior.
Na parte laboratorial, o Sr. Waldomiro, colocou em funcionamento o dosador de flúor do laboratório de Biologia da universidade dos Açores, checando as dosagens com o aparelho levado da FOP. O Sr. Waldomiro também ensinou os alunos de PG que atenderam a parte pratica de como preparar as soluções usadas nas dosagens de íon flúor.
Na parte laboratorial, foram feitas determinações de fluoreto em amostras de água e chá. Na agua do laboratório foi encontrado 0,61 ppm F, valor esse inferior ao 1,5 ppm previsto, porém em uma amostra de água mineral (Pedras Salgadas) vendida em Açores, mas vinda do continente foi encontrado 1,16 ppm F. Nesta água não está descrito na rotulagem que ela contém fluoreto e assim as pessoas podem deixar de tomar água de abastecimento público com receio de flúor natural e acabam ingerindo muito mais por uma mineral. Nas amostras de chá produzidos em Açores foram encontradas concentrações de fluoreto 2x maiores que nos chás ingleses e brasileiros, sendo que uma xicara de chá contribuiria com a ingestão diária de 0,40 mg F.
Tomando conhecimento sobre a linha de pesquisa do depto de Biologia da universidade dos Açores, que estuda o impacto do ambiental do vulcanismo usando como marcador biológico camundongos silvestres, o prof. Jaime sugeriu fazer a análise da concentração de flúor no osso desses animais. O prof. Jaime fez a determinação da concentração de fluoreto em 3 animais do grupo controle (não expostos ao vulcanismo), capturados em Rabo de Peixe e em 3 capturados na região das Furnas. Em média, foi encontrada uma concentração 4x maior no osso dos animais expostos ao vulcanismo, abrindo possibilidade de estudo futuro mais aprofundado, quando outros marcadores do metabolismo do flúor poderão ser também analisados.
O workshop foi organizado pelo prof. Armindo Rodrigues e pela PG Diana Linhares do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos (CVARG) da Universidade dos Açores. Este workshop abriu a possibilidade para o estabelecimento de convênio internacional entre a UNICAMP e a Universidade dos Açores para estudar o impacto ambiental do vulcanismo com relação a exposição a fluoreto, tendo em vista a expertise da área de Bioquímica da FOP-UNICAMP nesse assunto.