De 2 a 7 de setembro, a Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO) realiza, no Expo Dom Pedro, o encontro que mostra as conclusões de diversas especialidades da odontologia, resultantes de trabalhos desenvolvidos por estudiosos de várias categorias
A pesquisa odontológica brasileira deu um salto nas últimas duas décadas e ganhou nos últimos anos projeção em nível mundial. As universidades estaduais paulistas foram o embrião da evolução e aprimoramento das inovações na área, que hoje brotam de vários centros de ensino e pesquisa espalhados por todo o País. Na avaliação do vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO), Carlos Francci, e também professor do Departamento de Biomateriais e Biologia Oral da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil tornou-se um dos países mais fortes na pesquisa e no registro de patentes de materiais na área odontológica.
Para se ter uma ideia do nível de produção, um total de 3.290 trabalhos científicos foram sub-inscritos na 32ª Reunião anual da SBPqO, a ser realizada de 2 a 7 de setembro, durante a qual serão apresentadas as conclusões em diversas especialidades da odontologia, resultantes de pesquisas desenvolvidas por estudiosos divididos por categorias: membros iniciantes (graduandos), sócios iniciantes (mestrandos) e sócios efetivos (doutorandos ou professores especializados). O aumento de profissionais dedicados à pesquisa de inovações tecnológicas obrigou a SBPqO a mudar o local da próxima edição do congresso. Realizado durante nove anos em Águas de Lindoia, o evento teve de deixar o município do Circuito das Águas devido ao aumento do número de inscritos, cuja estimativa é de 5 mil pessoas neste ano. “Escolhemos Campinas para sediar o evento devido à infraestrutura da cidade e sua proximidade com o aeroporto de Viracopos, o que facilita a vinda de participantes de todo o País e da América Latina, que representam 40% do total”, afirma Carlos Francci, vice-presidente da SBPqO.
A reunião será no Expo Dom Pedro, anexo ao Parque Dom Pedro Shopping. Além de fomentar a pesquisa científica em solo brasileiro, a SBPqO é a divisão brasileira da International Association for Dental Research (IADR), nos Estados Unidos. A entidade classifica o Brasil na terceira colocação no mundo em pesquisa odontológica, atrás somente dos Estados Unidos (1º) e do Japão (2º). A sociedade foi criada em maio de 1983 com a finalidade de promover amplamente o desenvolvimento e a divulgação da pesquisa em todas as áreas das ciências que contribuam diretamente para o desenvolvimento da saúde bucal. Atualmente tem como presidente a professora Altair Antoninha Del Bel Cury, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A programação deste ano vem recheada de painéis, cursos e seminários sobre tendências, inovações, ensaios clínicos num total de 37 apresentações nas mais variadas especialidades da odontologia. A abertura do evento ficará a cargo do especialista norte-americano Christopher Fox, diretor-executivo da IADR. “Ele está vindo pelo destaque que tem a divisão brasileira da associação norte-americana em nível mundial”, ressalta Francci.
O vice-presidente da SBPqO cita uma das especialidades de maior destaque nesta próxima edição: o laser em odontologia. “O tema era pouco explorado no Brasil, mas tem se destacado na odontologia internacional. Foi criado para a reuniãoum seminário sobre o assunto com 400 lugares e em dois dias já estava lotado”, comenta. Outras duas áreas têm chamado a atenção de Francci por estarem atraindo pesquisadores: a de dentística, materiais dentários e técnicas de restauração, e a odontopediatria junto a de ortodontia. “Nos surpreendemos com o número de trabalhos inscritos nessas duas áreas”, acrescenta.
Descentralização
A pulverização da pesquisa odontológica no Brasil, conforme Francci, deu-se a partir das três universidades estaduais paulistas – Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e trouxe benefícios ao País por ter alavancado o fomento à pesquisa em outros estados. “As três têm há décadas uma produção no nível de pós-graduação muito forte e por muitos anos foram geradoras de corpo docente especializado que se espalhou por universidades de todo o País. São grandes nomes que estão pulverizados em várias regiões promovendo o desenvolvimento delas na área odontológica”, afirma. Ele dá dois exemplos dessa descentralização. Um está em Pelotas (RS) onde há um centro tecnológico de desenvolvimento de patentes e vem para a reunião com uma grande quantidade de pesquisadores e alunos. Outro está no Maranhão, de onde se deslocarão 25 pessoas para Campinas, além de outro, com sede em Belém (PA), de onde virá um grupo de 20 profissionais.
Francci ressalta ainda o destaque que vem ganhando em nível nacional a São Leopoldo Mandic, faculdade de odontologia e medicina de Campinas, que, segundo ele, conta com um corpo docente altamente especializado e tem investido em pesquisa. “É a segunda escola que mais trabalhos submeteu à reunião deste ano, com 213 títulos, atrás da Unicamp que sub-inscreveu 219 estudos”, destaca.
Indústria
No bojo do aumento vigoroso da pesquisa odontológica no Brasil veio o crescimento da indústria especializada em materiais para os mais diferentes procedimentos, o que contribuiu para baratear os tratamentos. “A indústria nacional se destaca e já temos exportadores de produtos odontológicos. A FGM é um exemplo. Com 20 anos de atuação no mercado ela tem se destacado no cenário mundial como fabricante de resinas e se tornou líder na América Latina em clareadores, desbancando uma empresa norte-americana que até a década de 1990 encabeçava as vendas no Brasil. Hoje, a FGM detém 80% do mercado brasileiro de clareamento dos dentes”, revela.
Na visão de Francci, o desenvolvimento da indústria nacional na área odontológica foi um dos fatores que favoreceram o acesso da população aos consultórios dos dentistas. Conforme ele, o barateamento dos materiais, o aumento do poder aquisitivo da população, do número de cursos e de mão de obra especializada contribuíram para atrair mais brasileiros para as cadeiras dos dentistas. “O programa Brasil Sorridente, do governo federal, e a política de prevenção e fluoretização da água e das pastas dentifrícias, são políticas públicas que trouxeram benefícios pois vemos hoje uma redução significativa nas cáries dentais em crianças, e até sua ausência, mesmo sem a conscientização da necessidade e importância da higiene bucal em grande parte da população”, comenta.
Matéria exibida no Correio Popular em 23/08/2015