Pesquisa conduzida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) concluiu que houve um aumento significativo na incidência de trauma facial causado por acidentes desportivos e atingiu principalmente a população de adultos jovens do gênero masculino. No período estudado, que vai de janeiro de 2005 a dezembro de 2014, foram avaliados 2138 pacientes com trauma em face, atendidos pela Área de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, da FOP, na cidade de Piracicaba e região. Acidente desportivo foi a quarta principal causa de trauma facial.
De acordo com Gustavo de Almeida Souza, que abordou o tema em sua dissertação de mestrado, orientado pela professora Luciana Asprino, o principal fator etiológico do trauma facial ainda são os acidentes de trânsito. “Mais de 50% dos nossos pacientes foram vítimas de acidentes automobilísticos – motociclísticos, seguido por agressões físicas, em terceiro lugar vem as quedas e, em quarto lugar está o acidente desportivo”, explica.
Este trabalho foi baseado em um estudo observacional, prospectivo e longitudinal, com a análise direcionada a dados relativos a variáveis populacionais como idade, gênero, cor/raça, etiologia do trauma, uso de dispositivos de segurança, características das lesões corporais em face ou não, incluindo lesões a tecidos moles, fraturas, traumatismo dentoalveolar e seus sinais e sintomas, e tratamento instituído.
Mesmo com a mudança de leis de trânsito e melhoria da segurança dos carros, o número de acidente automobilístico ainda é alarmante. Mas, o trauma desportivo vem crescendo, devido ao aumento da prática desportiva, incentivada pela divulgação dos benefícios das atividades físicas para a saúde, como a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. Contudo, alerta Souza, esse crescimento é preocupante, pois, à medida que mais pessoas praticam atividades físicas, sem tomarem as devidas medidas de segurança, maior o risco de acidente.
Dos 2.138 pacientes vítimas de trauma facial incluídos no estudo, 86 (4%) foram vítimas de trauma facial por acidente desportivo. “Parece um número pequeno, mas quando avaliamos a proporção de fraturas faciais, nos deparamos com um valor elevado: 70% destes pacientes tinham alguma fratura facial. É preocupante”, alerta.
Analisando-se a distribuição pelo gênero, dos 86 pacientes, 83 foram do gênero masculino e três do gênero feminino, com média de idade de 25 anos. A maioria dos pacientes (79%) esteve envolvida em acidentes desportivos durante a prática do futebol e apenas três (3,5%) pacientes afirmaram fazer uso de protetores bucais/faciais no momento do trauma. Em relação aos traumatismos faciais, o estudo mostrou que 61 pacientes (70,9%) possuíam pelo menos uma fratura facial, totalizando 65 fraturas faciais por acidente desportivo. Tal valor representou 4,6% das fraturas no período estudado. Fica o alerta de que necessitamos de campanhas de conscientização quanto ao uso de protetores bucais/faciais, como já ocorre em países da Europa e Estados Unidos. Visto que, o aumento de praticantes das mais diversas modalidades esportivas é uma tendência mundial, conta Gustavo.