Agência FAPESP* – Pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp) desenvolveram um novo material odontológico biodegradável para controlar processos inflamatórios associados a infecções em implantes dentários.
Divulgado na revista Advanced Functional Materials, o trabalho foi financiado pela FAPESP.
Como explicam os autores, os implantes dentários representam atualmente a principal opção de tratamento para substituir dentes perdidos. Embora o procedimento apresente alta performance clínica, infecções podem atingir um a cada três implantes, representando a principal causa de falha destes tratamentos. Além disso, com a maior popularidade dos implantes, o número de infecções tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, reduzindo a qualidade das reabilitações e comprometendo a qualidade de vida dos pacientes
Os tratamentos atualmente disponíveis para as infecções microbianas relacionadas com implantes nem sempre são eficazes, principalmente devido à incapacidade de controlar a resposta imunoinflamatória, que pode ser lesiva para o tecido.
Diante dessa realidade, o grupo da FOP-Unicamp identificou que células da gengiva humana aumentam consideravelmente a expressão de determinados receptores da sua membrana, capazes de modular o processo inflamatório, quando interagem com o folato, composto também conhecido como vitamina B9.
“Com base nessa descoberta, avançamos no desenvolvimento de um novo biomaterial, utilizando a técnica de impressão molecular, com o objetivo de promover a liberação controlada de folato em resposta à variação do pH tecidual. Essa liberação controlada é especialmente relevante, dado que os locais com doença ao redor dos implantes apresentam pH alterado e são processos crônicos”, conta à Agência FAPESP Raphael Cavalcante Costa, doutorando da Unicamp responsável pelo estudo.
Segundo Costa, a liberação da vitamina B9 só acontece em locais com processo inflamatório presente. “Assim, por meio de uma abordagem multidisciplinar, o polímero impresso recém-desenvolvido viabilizou a aplicação do folato como um agente imunomodulador nos tecidos peri-implantares [em torno da área operada], garantindo concentração e tempo de exposição ideais para o controle da fase ativa da inflamação ao redor dos implantes dentários”, explica.
Denominado PCL-MIP@FT, o material criado pelo grupo é feito de policaprolactona (PCL, substância também usada no tratamento de rugas, para estimular a produção de colágeno na pele) e tem capacidade de entrega sustentada de folato por até 14 dias em ambiente ácido com uma concentração de 1 micrograma por litro (μg/mL), considerada terapêutica para os tecidos inflamados ao redor do implante.
O trabalho foi orientado pelo professor Valentim Barão, da Unicamp, e teve a participação também dos professores João Gabriel Silva Souza e Karina Gonçalves Silvérios Ruiz, ambos da Unicamp, e demais pesquisadores de instituições parceiras.
Vantagens
Os autores destacam que, ao contrário dos sistemas de liberação de medicamentos atualmente utilizados na odontologia, a entrega do folato pelo polímero biodegradável ocorre apenas de forma local e durante o desenvolvimento de uma infecção, sinalizada pela variação do pH local.
“Além disso, o material foca no controle da inflamação, ponto-chave para controlar a progressão da doença e a destruição tecidual decorrente da infecções relacionadas a implantes. Ressalta-se que o polímero é biodegradável, sendo completamente eliminado após um período de 60 dias, o que evita efeitos adversos causados por sua permanência no local”, acrescenta.
Outro aspecto relevante é que o material pode ser reaplicado, potencializando os efeitos terapêuticos de maneira rápida e fácil durante a consulta odontológica, com um intervalo de retorno adequado ao paciente.
O artigo Pathogenesis-Guided Engineering: pH-Responsive Imprinted Polymer Co-Delivering Folate for Inflammation-Resolving as Immunotherapy in Implant-Related Infections pode ser acessado em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/adfm.202406640
Matéria originalmente publicada no site da FAPESP – 24/09/2024