Ao analisar a ação de cremes dentais veganos, a cirurgiã-dentista Reginna Carneiro constatou que produtos com o suposto efeito de clarear os dentes naturalmente não promoveram qualquer ação do tipo – ao contrário do anunciado por seus fabricantes. A avaliação integrou sua pesquisa de doutorado, um trabalho desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Clínica Odontológica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, sob a orientação da professora da unidade Vanessa Cavalli.

A pesquisa, que contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), procurou verificar os impactos dos cremes dentais com formulação vegana – portanto, sem ingredientes de origem animal – sobre a camada mais externa dos dentes, isto é, o esmalte dentário. Para realizar essa análise, Carneiro selecionou oito tipos de produto vegano disponíveis no mercado, dos quais parte prometia uma ação de clareamento natural dos dentes. As opções selecionadas foram: extratos de cúrcuma, cravo e melaleuca; extratos de camomila, melissa e uva; extratos de hortelã e cúrcuma; zero menta; zero hortelã; menta Everest; carvão e menta; e herbal anis, menta e melaleuca. Já o creme dental convencional Colgate Total 12 Clean Mint foi empregado, na pesquisa, como controle.
O trabalho transcorreu em etapas distintas, envolvendo diversas análises e dando origem a diferentes artigos científicos. Nos experimentos realizados em sua primeira fase, Carneiro usou um bloco artificial que simulava um dente humano com esmalte íntegro, ou seja, saudável, para investigar possíveis alterações na cor e na superfície do esmalte. Para tanto, conduziu ciclos de escovação simulada, utilizando os cremes dentais veganos e o de controle. A avaliação apontou que nenhum produto testado alterou a superfície do esmalte de forma negativa, em comparação com o efeito do creme dental convencional. Já aqueles prometendo uma ação clareadora natural não conseguiram obter qualquer branqueamento.
Ao conduzir a segunda etapa da pesquisa, a cirurgiã-dentista se concentrou em examinar os efeitos dos produtos não mais sobre o esmalte íntegro, mas em uma nova situação, envolvendo o consumo de bebidas e alimentos ácidos, que comprometem o esmalte. Para o experimento, trabalhou com uma simulação de desgaste na superfície do esmalte, buscando analisar quais os efeitos do uso dos produtos quando associado a uma dieta ácida. Assim como na primeira parte do doutorado, também aqui a comparação com o creme dental convencional indicou que o uso das opções veganas não danificou ainda mais o esmalte. Por outro lado, não o protegeu contra desgastes.